José Dantas Furtado, paraibano de Catolé do Rocha, chegou ao Apodi na
segunda metade do século passado, onde se consorciou com Dona Joaquina
Dantas. Desse consórcio houve nove filhos. Manoel José Dantas foi o
segundo filho do casal, nascido em 19 de janeiro de 1883.
Não fugiu à tradição do pai, antigo sacristão da Igreja Matriz do Apodi.
Aos noves anos de idade já ajudava na missa da matriz, época em que o
vigário Antônio Dias da Cunha encerrava suas atividades evangélicas.
Padre que se tornou famoso na ribeira do Apodi, pelas suas conquistas
amorosas, das quais deixou descendentes na terra.
Manoel José Dantas foi aluno do Professor Antônio Laurênio Dantas, com
que aprendeu português, matemática e outras matérias. O latim, usado nos
atos religiosos, aprendeu com o seu genitor.
Durante 77 anos serviu como sacristão da antiga Matriz de São João
Batista, convivendo com mais de 25 vigários, o que lhe proporcionou um
relativo grau de conhecimentos e boa prática de relações públicas.
Somente se afastou de suas atividades, quando a saúde não lhe permitiu
mais trabalhar.
Sua dedicação, seu zelo, o amor ao trabalho da sacristia, é coisa rara
entre os que assumem compromissos para desempenhar funções. Metódicos,
rigoroso e exigente nas suas atividades, Manoel Dantas orgulhava-se de
cumprir, com extremada pontualidade, seus deveres de sacristão, tudo
realizado no tempo exato, sem nada esquecer. Chegava sempre antes da
hora.
Era, ao mesmo tempo, um atento observador do comportamento das pessoas
na igreja, por ocasião dos atos religiosos. Desviando-se da ordem
exigida, Manoel Dantas não perdoava. Repreendia imediatamente o
faltoso.
Não admitia nem se conformava com pessoas conversando dentro da igreja,
durante as celebrações, principalmente mulheres. Opunha-se,
intransigentemente, aos trajes para ele ofensivos à casa de Deus. e era
inimigo rancoroso de meninos que jogavam bola no patamar da Igreja,
expulsando-os energicamente daquele local.
Dizia sempre o zeloso sacristão que “a igreja é lugar de respeito, de
oração. É a casa da mãe de Deus. Não vamos admitir que alguém tente
desrespeitá-la”. Com o seu afastamento da antiga matriz, as coisas foram
mudando. O patamar transformou-se numa quadra de esportes. Suas portas
são hoje, lugares preferidos paras cenas indecorosas de amor. Como não
estava sofrendo a ama do nosso extraordinário sacristão?... Observando,
estarrecida, a profanação desses lugares, onde ele tanto pisou, com
tanto amor, respeito e carinho.
Não se limitava apenas a ajudar o vigário nos atos religiosos. Fabricava
hóstias, fazia limpeza, arrumava, fazia anotações, escrevia nos livros
de registro de batizados e casamentos.
Um dos seus hábitos, que não falhava, durante o longo período em que
desempenhou as atividades de sacristão, era abrir a igreja de madrugada
cedo. Igreja que serviu de cemitério no passado. Afirmava Manoel Dantas
que nunca viu uma alma naquele local, pois não acreditava que elas
aparecessem aqui na terra.
Manoel José Dantas também participou da vida social e política da
cidade. Foi músico na juventude, ajudou a fundar sociedades, participou
de luta política, tendo sido eleito vereador no pleito eleitoral de
1948, pelo Partido Social Democrático – PSD.
Contam que, certa vez ao receber um home, que viera encomendar uma
missa, Manoel Dantas explicou ao mesmo, que o preço, por ordem do bispo,
aumentara para dois mil réis. O homem só trouxera mil e quinhentos
réis. Levando o problema para o vigário resolver, obteve esta resposta:
“Por uma missa celebrada por mim, ajudada por você, Manoel, é dinheiro
demais!”.
Ouvindo as palavras do vigário, o homem entregou o dinheiro. Mas
retirou-se apreensivo, quase descrente no valor espiritual da missa que
acabara de encomendar.
No dia 17 de abril de 1973, deixava de existir Manoel José Dantas.
Morria o mais antigo sacristão do Apodi. Um exemplo extraordinário de
dedicação ao trabalhou que abraçou.
Os trabalhos de Manoel José Dantas, como sacristão da igreja do Apodi,
durante mais de três quartos de séculos, com dedicação e carinho,
lutando e zelando as coisas da paróquia, dia e noite, sem medir
sacrifícios, não foram correspondidos, pela própria organização à qual
serviu com tanto orgulho.
Negaram-lhe as atenções e homenagens das quais era digno e merecedor.
Lamentamos registrar esta nota, mas, para sermos coerentes com a própria
história, somos obrigados a fazê-lo, no momento em que evocamos a
figura do antigor servidor da Matriz do Apodi.
FONTE - TUDO DE APODI
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